Bem-vindo!

Aqui é um espaço onde vou aproveitar para colocar em prática meu hobby de escrever e se você está aqui agora lendo isso, que legal, é muito bem-vindo!

Agora poderá conhecer um pouquinho dos personagens que conheci (na vida real), daqueles
que criei para o teatro e de outros que criei apenas na minha imaginação...

Enjoy it!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Guardador de Segredos

Não consigo mais ficar longe de você. É difícil ficar quieta quando eu te vejo, não revelar a ti meus segredos. Dizem que o amor acontece quando a gente revela nossos segredos mais íntimos. Eu te amei à primeira vista. Não pude resistir à tua pureza, sem passado, sem história alguma para contar. Tão alvo e inocente. Assim te quis todo para mim. O dono da minha história, meu maior ouvinte.

Era difícil ficar longe de você nos momentos de turbulência, por isso eu sempre corria para teu lado. Você me fazia pensar, refletir sobre que era melhor em cada circunstância. Meu melhor amigo. Como você me fez bem!

E agora é você quem tem muita história pra contar, né? Muita história minha porque nessa tua vidinha cor-de-rosa nada acontece, não é mesmo? Seu bobo, como eu te odeio! Agora você quase não me ouve. Teus dias estão contados, sua vida por um triz. Eu te xingo e você nunca retruca. Dizem que os psicopatas são assim, sabia? Hein, seu branquela? Você está no final, só tem mais uma página em branco e eu ainda quero te contar tanta coisa... Desculpa meu diário, meu caderninho querido, por eu só ter te usado todo esse tempo. Mas você me fez tão bem... E lembra sempre que você foi o escolhido. Meu preferido em meio àquele monte de cadernos empilhados na livraria.

Sinto muito que você não será mais meu confidente. A tua história acaba por aqui. A minha continua e os meus segredos também. Me perdoa, meu querido, chegou o momento de você ser cremado.


Adeus companheiro.


Carla

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

DESPEDIDA

Neste momento me deparo com a cruel desvantagem entre minha juventude e tua maturidade. Vejo-te partindo e por mais energia que eu tenha, nada posso fazer para impedi-lo.

Aqui me despeço do que resta de alma em teu corpo que em breve verei coroado de flores.

O despedir exige de mim maturidade que não tenho. Não consigo atender ao teu pedido de te deixar partir. Egoísmo meu querer te segurar mais um tempo dentro do corpo habita.

Vejo-te deitado nesta cama, fraco e debilitado, me pedindo para ir embora que tudo ficará bem. Não vai ficar. Ao menos por um bom tempo. Pare de me proteger, deixe-me conhecer tua vulnerabilidade e tentar ajudar. Basta de me esconder assuntos difíceis, me ajude a encará-los e a crescer, como um bom amigo faz.

Tua despedida dói e me fortalece.

Choro a saudade futura que já começa a se acumular no meu peito.

sábado, 29 de maio de 2010

Dezesseis

Gosto de video-game. Sou meio nerd, mas e daí? As meninas me acham bonito, então nem sou tão nerd assim. Às vezes fico com elas, beijo na boca, faço sexo, faço amor, não sei. Vou pra aula, pro futebol, volto pra casa, durmo. Durmo de tarde, coisa de vagabundo, que é que tem?

Colo na prova, nem tô. Sou bom no futebol, no tênis e até surfo. Não sei dançar, mas e daí? Fico na minha, tomando uma cervejinha no canto da festa, digo que não gosto, que é coisa de marica ficar se contorcendo só porque o barulho começa.

Não sei que faculdade eu quero. Gosto de matemática, às vezes não gosto.

Sou um pouco bonito e um pouco feio. Tenho a pele boa e um sorriso maneiro, mas meu nariz é grande e quando fico sério só dá ele na minha cara. Nem tô.

Um dia vou crescer e tudo vai mudar. Ou não. Às vezes gosto de doce de abóbora da minha vó. Às vezes odeio ela. O doce, a vó e toda a família. E tem horas que me sinto como um passarinho no ninho e corro pro colinho da mamãe. Que gay! Mas é bom.

Tem horas que eu fumo. Acho do caralho segurar aquele bagulho na mão e assoprar a fumaça. O assopro é a hora que o cara mostra o poder que tem. As meninas ficam fazendo biquinho. Não sei se acham bonitas, mas parecem umas cadelas no cio. Eu sou macho, quase cuspo assoprando e queimo quem vier com viadagem pra cima de mim. A, sei lá. Tenho um colega que gosta de homem e ele é legal até.

Um dia vou parar de gostar de video-game. Vou saber o que quero da vida. Talvez aprenda a dançar. E talvez nada disso aconteça, mas e daí? Eu só tenho dezesseis!

29 de maio de 2010.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Essa noite eu tive um sonho

Essa noite eu tive um sonho. Sonhei que você estava de volta. Que tudo voltava a ser como antes. Você estava ali, sorrindo, trazendo todos de volta para mim, todos ligados novamente pelo mesmo fio. Sonhei que eu corria rindo sozinha pelo gramado do imenso jardim de casa. Jardim que me trouxera tantos momentos de alegria, e que também foi pouso para minha tristeza no momento em que você partiu.

Sonhei que eu lembrava de tudo o que a gente tinha conversado por horas na noite anterior a tua partida. Conversa essa que insisto em me lembrar enquanto minha mente teima em esquecer. Acordei no dia seguinte e tinha partido, embarcado naquela longa e traiçoeira estrada. Recordo de ter aproveitado ao máximo a tua presença, como se isso fosse minimizar a dor da tua ausência, mas a saudade é um incômodo eterno quando não se pode saciá-la.

Lembro de estar brincando com minhas amigas até tocar o telefone e eu correr de pés descalços da varanda para a sala enquanto ela, do outro lado da linha, gritava teu nome repetidas vezes, até dizer que você tinha morrido.

Deitei no jardim que tanto foi palco de nossas brincadeiras e lá fiquei. Olhando para o céu. Sem conseguir entender. Um misto de raiva com tristeza se fez presente dentro de mim. A sensação de impotência me dominou e compulsivamente comecei a chorar. Chorei o choro que não se cala dentro de mim. O choro silencioso que irá me acompanhar até o fim da minha vida.

No meu sonho você me dizia que ainda estava vivo e que sempre que quisesse, poderia te encontrar no local onde sepultaram teu corpo. E para lá eu ia, quando queria sentir um pouco mais da tua presença, suprir a tua falta. Olhando teu rosto emoldurado naquele pequeno espaço. Teu olhar profundo me expressa o que tua alma quer dizer. E conversando contigo, em silêncio, o meu pranto se acalma e a paz toma conta do meu ser.

É quando eu me despeço e volto para casa, na certeza de nunca mais poder ter ver, mas na esperança de sempre continuar a te sentir.

30/11/2009

domingo, 15 de novembro de 2009

Sangue e teu perfume



Senti o jorro do seu sangue quente em meu pescoço. O som ensurdecedor daquela freada brusca do carro que insiste em me atormentar. O silêncio que marcava o início do nada. Levantei e segui meu caminho pela estrada vazia, levando comigo parte de você nas mãos, na roupa... cabelos inundados de sangue... nada mais importava.


E segui, desejando ardentemente que fosse eu que tivesse partido naquele acidente - desejo esse meu egoísta que almejava me poupar da dor, mas também amoroso por querer te dar um pedacinho mais de vida, estender um pouco mais da tua história.

- Meu filho, não! – dizia a mãe debruçada sobre o caixão. O pai atordoado fumava sem parar ao lado de fora da capela. Eu, permaneci calada, observando tudo de longe, tentando não arrancar fora aquela tampa do caixão e gritar para que você voltasse à vida. Mas calei.

Ao voltar para casa, todos foram para seus quartos enquanto a mãe dizia para o pai:


- Manda a empregada arrumar as coisas do quarto dele - Então fui. Arrumei tudo direitinho, do jeito que você gostava. Ali me tranquei e, vendo suas fotos, sentindo o perfume de suas roupas, chorei a dor da saudade. Saudade daquilo que nunca se chegou a viver, para mim essa era a mais dolorida! Lembrei da noite anterior, seu sussurro na janela do meu quarto, pedindo para eu sair pelos fundos que me esperaria no carro. Minha música preferida tocava quando entrei. Sorriu, me beijou e partimos. Seguimos sem rumo pela estrada, até que nossas músicas prediletas se esgotassem. Até que o sono batesse e tivéssemos que voltar. Até que o destino, talvez, nos impedisse.

sábado, 14 de novembro de 2009

Lançamento do livro "Contos de Abandono"

O abandono, enquanto experiência humana, não exige, necessariamente,
sofrimento; pode resultar na exultante - e mesmo insuspeita - possibilidade
de novos caminhos.

Em CONTOS DE ABANDONO, os autores escolhem as
tintas com as quais pintam as telas da narrativa.
(José Carlos Laitano)



(Foto: Marco Nedeff)


Obrigada a todos que participaram deste momento especial! Os que estavam ali presentes e os que, mesmo que ausentes, se fizeram presentes.


ONDE ENCONTRAR:

Um beijo,

Aline

terça-feira, 27 de outubro de 2009

CONVITE!

Convido vocês para o lançamento do primeiro livro que estou participando. É uma coletânea de contos sobre o abandono, onde participo com um conto meu sobre o tema.

Local: Sala Leste do Santander Cultural
Data: 11/11, quarta-feira, às 18h.

MESA-REDONDA (18h)
Tema: O abandono e seus diversos olhares.
Paulo Rebelatto, psiquiatra
Luiz Antônio Assis Brasil, escritor
João Batista Costa Saraiva, juiz.

AUTÓGRAFO COLETIVO (20h) - Memorial do Rio Grande do Sul

(clique no convite para melhor visualização).





sexta-feira, 23 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Meu adorável professor


Sabia que estar ali bastava.
Sentia através do seu olhar que minha presença era capaz de encher a sala. Enquanto a dele enchia meu coração.

O dia mais esperado da semana. Horas para se arrumar. E ainda assim, a certeza de que querendo ser pontual, chegaria sempre atrasada.

Enfim, a aula começava. Começou. Atenção. A matéria, antes chata, agora me encanta. Ele sabe mesmo ensinar.

A aliança que leva no dedo, pouco me importa, porque sei que não o impedirá de voltar semana que vem na mesma hora, no mesmo lugar.

Ele conta uma piada. Rio. Ninguém mais ri. Sinto um calorão no meu rosto, devo estar vermelha! Será que ele percebeu?

Algo bate em minha nuca. Um aviãozinho de papel jogado do fundo da sala. Esses meninos são muito criança! O sino toca. Pego minha merendeira cor-de-rosa e vou para o recreio.
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Prece de hoje

Que Deus te faça compreender
Porque o sol se esconde quando a lua quer brilhar
E porque o sol brilha quando ela vai descansar.
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domingo, 10 de maio de 2009

Amiga?




















Quem é que nunca teve uma amiga que sempre te enche de “ai amigaa”, ou “miga”, “querida, linda, fofa, abençoada....” e por aí vai. O que tenho pra falar é simples e claro: chega de firulas no blablablá, o que vale é a autenticidade. Não precisa encher a boca de adjetivos para falsear uma proximidade, a questão é ser simples e direta.

Porque prestando atenção as meiguinhas demais não são tão santas quanto se mostram ser. "Amiga, sabe que eu adoraria ir, mas só se tu me buscar" (caroneiras). "Ai miga, ai não sei se vou, quem é que vai?" (interesseiras). “Aiii, me liga e diz que tu precisa falar comigo urgente só pra eu sair de lá (pilantras quando estão com uma companhia ruim. Detalhe: ela te deixa como a vilã – será que foi sem querer?).

Quem é que não se assusta quando a meiga trai seu namorado, mente ou engana o chefe? E quando você precisa daquela criatura doce, que você fez tanto por ela por achar que ela era indefesa, e ela te vira as costas?

Acho que tem uma fase na vida que aceitamos muitas coisas porque cremos que o importante é a quantidade de amigas. Então, chega um momento que você ouve de dentro de si um simples: Basta! Essa voz interior vem e peneira os bons e os maus. Os que valem a pena serem cultivados e os que merecem ir para o lixo. E isto, que parecia tão antipático há pouco tempo atrás, é tão libertador! Ah, se eu soubesse disso há alguns anos, quantas vozes doces eu teria tirado do meu caminho, com frases meigas de intenções perigosas. Abaixo as tais meiguices! Eu quero minhas amizades de raízes fortes, sólidas e autênticas.
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domingo, 19 de abril de 2009

O som do coração



Estava em uma festa universitária numa universidade americana que agora não me lembro o nome. Entre os comes e bebes em meio a risos e danças, começo a ouvir uma música que destoava da balada dançante a qual eu estava. Mesmo gostando de estar ali, o outro som era mais intrigante, mais profundo, mais presente. Discretamente deixei aquela sala – que era palco de uma discoteca para os que lá estavam – e segui pelo enorme corredor escuro passando pelas salas vaziam que ecoavam o som que eu tentava alcançar. Passei a ouvi-lo mais alto, agora era possível identificar sua origem, vinha de um piano, e a cada passo da minha apressada caminhada suas notas ficavam mais claras.

Quando lá cheguei, enxerguei um lindo garoto tocando piano numa sala vazia. Tocava de forma intensa e apaixonada, o que me deixava mais fascinada. Embora envergonhada por ali estar, a sós com um estranho, dali não conseguia sair. Nem parar de olhá-lo. Sentia que um rubor tomava conta de mim, foi quando ele parou de tocar e disse:
- Oi, tudo bem?
- Você toca muito bem – falei, meio desconcertada.
- Não sou eu que toco. - pausa - É ele – falou apontando para cima.
Rapidamente olhei para o teto, depois para os lados e então para baixo – como faz uma adolescente insegura quando não entendeu algo.
- É ele, é Deus quem me inspira.

Por alguns instantes ficamos em silêncio. Não lembro o que se sucedeu depois, mas jamais me esquecerei daquele momento.
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quarta-feira, 15 de abril de 2009

Um pouquinho de vida...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Quando eu morri...



Minha morte foi lenta. Fui morrendo aos poucos. Fui percebendo que estava no caminho da morte quando tudo começou a mudar, as pessoas, as coisas... Meu sonho morreu. Então, quando notei que estava morta, já não sentia mais dor, porque a dor havia se dissipado nesse percurso.

Pensava que morrer doía. Não dói. Na hora não dói, não se sente nada, parece que ainda se está vivo até o momento em que você sai de seu próprio corpo e olha para si mesmo. Todos tentam te ajudar, clamando pela tua vida, enquanto o que você achava que era você, está ali, estagnado.

Morrer não dói porque só é possível sentir quando o coração vive. Morrer é abstrair-se, é deixar, abandonar os que te amam e a si mesmo.

Acordei sentindo saudades de mim. Ao sentir o calor das lágrimas que escorriam sobre minha face, percebi que, naquele instante, Deus me dava algo mágico: a dádiva da vida. Minha vida estava de volta.
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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Coisas da vida

Desastre ou vitória. Ambos foram muito intensos. Quisera por dias consecutivos ser insensível, característica que mais desprezei durante toda a minha vida!

No principio, o caos. Tudo que era integrado se desmanchou. Tudo o que acreditava ser verdadeiro, era falso ou, ao menos, não tão verdadeiro quanto eu considerava. A dor era inevitável, o desejo de sair correndo tomava conta do meu ser. Chorava escondida no meu canto por não ter palavras para expressar o que sentia. Ainda que encontrasse as palavras certas nunca iria mudar o caráter de quem me magoou, pois algumas horas de conversa não poderiam alterar o que demorou anos para se consolidar. A desconfiança tomou conta do meu ser, já não sabia mais em quem confiar, comecei a sentir desprezo pelas pessoas que mais próximas estavam e assim para longe fui...

E indo por esse novo caminho, descobri um mundo que não conhecia. Interessante, cheio de descobertas e novos afetos. Um mundo onde despertava a vontade de ficar, de ali permanecer porque ali era meu habitat. E vivi esse mundo com a intensidade e sensibilidade que pude.

E mais uma vez comprovei que é melhor ser sensível porque os momentos de alegria são muito mais intensos e vivos do que para aqueles que não tem a capacidade de sentir. E não há nada que se possa comparar com aquela euforia calma que acalenta o coração sensível.

Enfim, paz.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

As duas faces de mim mesma


Preciso de cor. Eu busco cor. Cor na vida, nos sentimentos, nas ações... Sou uma pessoa do bem que por vezes se perde dentro do emaranhado de pensamentos e cai em suas próprias ciladas, uma pessoa com muita energia que por vezes não consegue sair do mesmo lugar, sou alguém que tem tanto amor que acaba, por vezes, agindo com ódio. Sou uma mistura de elementos bons e ruins. Sou, na maioria de mim, uma pessoa boa que se perde tentando se encontrar.

Sou uma alma cigana de grande coração. Sigo migrando de lugar em lugar sempre tentando encontrar o melhor cantinho, o lugar mais aconchegante para acomodar minha alma. Em minha essência, sou uma pessoa que vive da busca, e estou no caminho para que eu me deixe ter o prazer de viver o momento onde eu encontro o que sempre busquei.

Sou, contudo, uma mistura de mim mesma.
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sábado, 15 de novembro de 2008

Sobre a mulher...


Volto da missa agora e sinto uma imensa vontade de compartilhar um pedacinho da bíblia que foi tão bonito ouvir hoje na Igreja. Nada de feminismos, porque não sou nem um pouquinho feminista. Mas acho que tem muitas coisas preciosas neste livro que nos parece tão complexo...

Provérbios:

"Uma mulher forte, quem a encontrará? Ela vale muito mais que as jóias. Seu marido confia nela plenamente, e não terá falta de recursos. Ela lhe dá só alegria e nenhum desgosto, todos os dias de sua vida. Procura lã e linho, e com habilidade trabalham as suas mãos. Estende a mão para a roca, e seus dedos seguram o fuso. Abre suas mãos ao necessitado e estende suas mãos ao pobre. O encanto é enganador e a beleza é passageira; a mulher que respeita o Senhor, essa sim, merece louvor".

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

No ônibus

Esses dias, estava voltando da universidade de ônibus, e antes de colocar o fone no ouvido, prestei atenção naquelas conversas paralelas que rolam quando a gente está em ambientes cheio de gente.

Era o cobrador comentando com o motorista se ele tambem tinha comprado o sabonete do Paulo. "Comprei, comprei" - disse o motorista. Satisfeito, perguntou se ele havia gostado do perfume do sabonete.
- Bom o cheirinho - acho que se pegou sendo meigo demais e completou: - Dei pru meus guri! - como um digno macho gaucho faria.

Achei tao meigo...
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sábado, 8 de novembro de 2008

Meu amigo, meu amor




Eu tinha sete anos quando ele entrou na sala de aula. “Pessoal, este é o novo colega de vocês”, disse a professora. Senti um frio na barriga e meu rosto esquentar. Guardei dentro do meu estojo cor-de-rosa, a escova com que penteava meus cabelos e fiquei imóvel, olhando fixo para o quadro-negro quando vi que ele me olhava.

Desde então nunca mais nos separamos. Estava sempre comigo. Nas fotos de infância e adolescência, era sempre ele quem estava ao meu lado. Alguns pensavam que éramos irmãos, outros diziam que éramos namorados e eu ficava furiosa, pois fui mais alta que ele por um bom tempo.

Quando beijei meu primeiro namorado, ele ficou uma semana sem falar comigo. Nunca mais quis saber do garoto e voltamos a ficar amigos. Ele me xingou, dizendo que era vulgar uma menina beijar na boca aos 13 anos. Quando começou a namorar, inventei uma doença qualquer e fiquei sem ir à escola por uns dias.

O que sinto quando estou com ele é melhor do que tudo o que já senti com todos os meus amores. Posso estar triste, mas quando ele me vê e abre aquele sorriso, é como se eu sentisse cócegas por dentro. A sensação de estar vendo tv ou fazendo nada ao seu lado é mais agradável do que qualquer outra que já conheci.

Tive experiências sensacionais e pessoas que até chamei de meu amor, mas nunca alguém me deixou tão feliz com um simples sorriso ou tão confiante apenas com um olhar.

Ele sabe de tudo da minha vida. Dos meus maiores acertos aos meus piores fracassos. Sabe do meu lado bondoso e do meu lado cruel, de todos os meus amores e desamores.

Dizem que a gente deve casar com quem se gosta de conversar... E se a gente também gostar de ficar por perto sem falar nada, gostar de ficar olhando, de viajar junto, de tomar sorvete de uva?

Aline Bortolin
08/11/2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A noite de uma feia



Fazia frio. Mas eu decidi que queria ser sexy aquela noite. Então iria usar o que meu guarda-roupas oferecesse de mais provocante. Pintei as unhas de vermelho na sala, cuidando pra não borrar porque toda vez que eu ia pintar o próximo dedinho do pé, minha barriga atrapalhava tudo. Ainda bem que eu não tinha jantado porque senão acho que teria vomitado, de tanto que esmaguei a coitada pra arrasar com meu pezinho vermelho.

Ao som de Madonna, fiquei no banheiro alisando meus cabelos. Ai, que droga, bem na raiz ainda dá pra ver que sou crespa! Que raiva! Fica tudo arrepiadinho! Bom, vou caprichar no resto.

Batom vermelho...Olhos bem pretos pra eu ter um olhar poderoso sobre os homens! Ah, hoje eu quero ver! Quero deixar aquelas mulheres secas no chinelo! Nada de modelos, homem gosta mesmo é de mulher com curvas. Hoje, só vai dar eu!

Coloquei, então, um vestido preto, bem curto e com um generoso decote. Para combinar com as unhas, decidi que usaria minha sandália vermelha, salto doze. Joguei meus cabelos negros e lisos sobre o decote insinuante do vestido, sorri para o espelho e parti.

Ao chegar na balada, a cada passo que eu dava na entrada da boate, os olhares me cortavam por dentro. Todo aquele ânimo, aquela empolgação que tive ao me arrumar, ao sonhar com a minha noite, começaram a escorrer por entre os dedos...

Comecei a dançar e fingir que não estava me importando com aquilo, fingir que só tinha saído pra curtir, sem nenhuma outra pretensão. Mas a feia rejeitada dentro de mim gritava de decepção. Chorava de amargura. Frustração. Tentava ser sexy, sorrir para parecer alegre, fazia poses de autoconfiante, mas a minha casca não ajudava em nada. O olhar das pessoas sobre mim era reprovador. As mulheres me olhavam e riam. Os rapazes mal me olhavam. Nada mais horrível do que ter uma aparência que não agrada.

Ao se aproximar do fim da festa, percebi um homem moreno, alto, de olhos claros e tronco largo, que caminhava rumo a mim. Vinha olhando fixamente em minha direção. Olhei ao redor e atrás para ver se o rapaz não iria falar com outra pessoa. Não havia ninguém. Olhei pro pulso, para ver se eu estava usando meu relógio e ele pudesse pedir as horas, e até cogitei que fosse perguntar por alguém. Mas ele me fitava nos olhos. Com o dedo no canto dos lábios, comecei a arrumar o batom que devia estar borrado, encolhi a barriga e esperei.

Com um leve sorriso, se apresentou e começamos a conversar... Sua voz era grave e levemente rouca, o que me levava a ter fantasias, imaginando seu sussurro em meu ouvido. Suas palavras eram como massagem para meu ego.

Após um tempo de conversa, ele me ofereceu uma carona. Finalmente, atingi meu objetivo daquela noite! Sei que não podia esperar o amanhã dele, mas para mim, aquela noite bastava.

De certo, ele havia levado um fora da mulher mais bonita da festa. Ou talvez tivesse brigado com a namorada. Pra mim, isso não interessava. A única coisa que eu conseguia pensar era que posso ser feia, mas ainda sou mulher!
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