Bem-vindo!

Aqui é um espaço onde vou aproveitar para colocar em prática meu hobby de escrever e se você está aqui agora lendo isso, que legal, é muito bem-vindo!

Agora poderá conhecer um pouquinho dos personagens que conheci (na vida real), daqueles
que criei para o teatro e de outros que criei apenas na minha imaginação...

Enjoy it!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Diário de uma atriz

Uma boa atriz é uma atriz que se conhece. Tem o domínio de si. Ela não tem vergonha do que possa parecer, pois escolheu botar sua verdade para fora. Escolheu se expôr, portanto tem maiores chances de ser amada e de ser rejeitada. Contudo quem já a conhece, não irá desgostar dela caso não goste de um trabalho que ela fez. E quem não a conhece, caso não goste dela, que mal isso fará à sua vida que nunca teve a participação desta pessoa?

Uma boa atriz sabe do que ela tem medo e enfrenta todos os dias seus inimigos. Ela os enfraquece e acaba vencendo todos eles pela persistência.

Uma boa atriz sabe o que sente quando sobre no palco e se depara com o público. Ela sabe o que o frio que sente em sua barriga está querendo alertar. E então ela trabalha isso, para que o frio na barriga, seja algo que ela consiga dominar.

Uma boa atriz sabe o que sente quando está diante das câmeras. Ela sabe o poder de um close, onde com toda a sua imaginação, ela consegue conduzir os sentimentos e tocar o coração dos telespectadores através de um simples olhar. Consegue levar desde a lavadeira até o mais alto executivo a atingir diversas emoções no momento em que ela transcende. No momento em que ela entra em outra vida e passa a não ser mais o que ela era há um segundo atráz.

Uma verdadeira atriz sabe que precisa muita dedicação para se chegar ao cume da inspiração e ela vive isso diariamente, de todas as maneiras possíveis.
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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Maria Clara

Somente quem tem uma mente perturbada consegue compreender o que é uma mente conturbada.

Meu nome é Maria Clara. Tenho 35 anos. Insistem em me dizer que sofro de uma doença. Na verdade não sofro de doença alguma. Eu sofro é de rejeição, de solidão. Me sinto muito sozinha, ainda que tenha uma multidão do meu lado. Eu sinto que incomodo minha família. Apesar de eles gostarem muito de mim e se esforçarem pra transmitir o amor deles, eu sinto uma tristeza por dentro. Por um lado porque sei que eles nunca saberão como funciona minha mente. Por mais que eles se esforcem eu vejo a frustração deles em não me compreender. Vejo em seus olhos, seus sorrisos sem graça quando entro em "surto". Não gosto de denominar tais sensações que me ocorrem com as palavras utilizadas pela medicina, mas em momentos acabo me sentindo meio escrava delas. Talvez para me sentir mais pertencente a este "universo".

Às vezes o que me acontece é uma sensação súbita de inércia. Vontade de não pensar em nada e ficar imóvel. É quando eu sinto que estou entrando em meu casulo. Ao avistar esse momento - para mim mágico e desesperador - os "responsáveis" pela minha sanidade mental, correm me levar ao hospital, onde passo alguns dias tomando dolorosas injeções e sendo torturada para voltar à vida sem graça e rotineira que os mundanos levam. Sempre interrompem o caminho onde vou para meu mundo maravilhoso. Meu mundo mágico onde só existem eu e as pessoas que eu crio para confortarem minha existência. Lá só existe paz... no início... depois eu não sei ao certo qual o momento, mas de repente o que era mágico começa a ser destruído e a ruína se inicia. É o momento onde me perco totalmente mesmo no mundo que eu mesma criei. Isso me revolta intensamente pela crueldade de Deus invadir meu próprio universo particular. Esse deus que pertence aos outros, ao mundo das pessoas normais. É, eu não me acho normal. Porque eu descobri que ser normal, é ser sem graça. É ser chato. É rir se todos riem. É levantar se o outro levanta. Ser normal é ingressar nessa comunidade tola. Eu prefiro ser eu. Ser coerente com o que penso e sinto. Ainda que meus pensamentos e sentimentos não sejam coordenados da maneira como os mundanos esperam que sejam.

Agora eu vou te confessar uma coisa. Apesar de eu ser corajosa no meu agir, às vezes eu sinto muito, mas muito medo mesmo. Medo de me invadirem, porque sempre acabam me invadindo. Medo de ficar sozinha no mundo e não ser mais compreendida. Medo de ser atacada pelos inimigos que minha mente começa a criar quando esqueço de tomar a porcaria do remédio. Sim, eu sou inteligente. Muito já li e estudei sobre minha "doença", ou melhor, sobre minha forte característica que me diferencia desta massa sem graça. Eu sou intensa. Na boa e na má. Sei que posso ser inofensiva como uma criança (pois eles me dizem isso quando eu me sinto feliz e segura). E sei que não tenho limites para a maldade que habita em mim quando me sinto ameaçada e me confrontam. A coisa que mais quero é me proteger. Busco a segurança em cada ato que faço.

...é, mas nem sempre. Porque eu sou o sim e também o não e as vezes os dois juntos.
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quinta-feira, 1 de maio de 2008

O porteiro apaixonado

E, mais um dia, chego em casa cansada ou com pressa e o vejo de longe se preparando para me receber. Mal consegue conter a alegria que aflora dentro de si. Levanta e estufa o peito, aguardando enquanto me aproximo. Apruma a camisa para dentro das calças do uniforme que usa. Vejo o brilho de seus olhos e isso, em alguns momentos, me comove, sinto-me de certa forma um ser mais especial para o mundo – ainda que eu esteja divagando nas minhas tolas preocupações.

Cansado de puxar assuntos de desgraças e tragédias, vendo que nada me agradava, agora o pobre homem tenta contar as últimas notícias boas que leu no jornal que entrega aos moradores do prédio: prédio, este, que ele passa todos os dias de sua semana abrindo e fechando a porta do elevador para quem quer que ali passe. Sua única função de poder é o momento em que impede a entrada de alguém no edifício. E o momento em que se sente mais importante, é quando sabe que terá minha total atenção: a entrega de recados. Nesse instante, provido de completa atenção, o coitadinho mal consegue conter sua felicidade. Então, ao abrir a porta do elevador, começa sua interminável sentença de frases agradáveis e gentis. Como se apenas um “boa noite” não bastasse.
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