E, mais um dia, chego em casa cansada ou com pressa e o vejo de longe se preparando para me receber. Mal consegue conter a alegria que aflora dentro de si. Levanta e estufa o peito, aguardando enquanto me aproximo. Apruma a camisa para dentro das calças do uniforme que usa. Vejo o brilho de seus olhos e isso, em alguns momentos, me comove, sinto-me de certa forma um ser mais especial para o mundo – ainda que eu esteja divagando nas minhas tolas preocupações.
Cansado de puxar assuntos de desgraças e tragédias, vendo que nada me agradava, agora o pobre homem tenta contar as últimas notícias boas que leu no jornal que entrega aos moradores do prédio: prédio, este, que ele passa todos os dias de sua semana abrindo e fechando a porta do elevador para quem quer que ali passe. Sua única função de poder é o momento em que impede a entrada de alguém no edifício. E o momento em que se sente mais importante, é quando sabe que terá minha total atenção: a entrega de recados. Nesse instante, provido de completa atenção, o coitadinho mal consegue conter sua felicidade. Então, ao abrir a porta do elevador, começa sua interminável sentença de frases agradáveis e gentis. Como se apenas um “boa noite” não bastasse.
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quinta-feira, 1 de maio de 2008
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