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Aqui é um espaço onde vou aproveitar para colocar em prática meu hobby de escrever e se você está aqui agora lendo isso, que legal, é muito bem-vindo!

Agora poderá conhecer um pouquinho dos personagens que conheci (na vida real), daqueles
que criei para o teatro e de outros que criei apenas na minha imaginação...

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Maria Clara

Somente quem tem uma mente perturbada consegue compreender o que é uma mente conturbada.

Meu nome é Maria Clara. Tenho 35 anos. Insistem em me dizer que sofro de uma doença. Na verdade não sofro de doença alguma. Eu sofro é de rejeição, de solidão. Me sinto muito sozinha, ainda que tenha uma multidão do meu lado. Eu sinto que incomodo minha família. Apesar de eles gostarem muito de mim e se esforçarem pra transmitir o amor deles, eu sinto uma tristeza por dentro. Por um lado porque sei que eles nunca saberão como funciona minha mente. Por mais que eles se esforcem eu vejo a frustração deles em não me compreender. Vejo em seus olhos, seus sorrisos sem graça quando entro em "surto". Não gosto de denominar tais sensações que me ocorrem com as palavras utilizadas pela medicina, mas em momentos acabo me sentindo meio escrava delas. Talvez para me sentir mais pertencente a este "universo".

Às vezes o que me acontece é uma sensação súbita de inércia. Vontade de não pensar em nada e ficar imóvel. É quando eu sinto que estou entrando em meu casulo. Ao avistar esse momento - para mim mágico e desesperador - os "responsáveis" pela minha sanidade mental, correm me levar ao hospital, onde passo alguns dias tomando dolorosas injeções e sendo torturada para voltar à vida sem graça e rotineira que os mundanos levam. Sempre interrompem o caminho onde vou para meu mundo maravilhoso. Meu mundo mágico onde só existem eu e as pessoas que eu crio para confortarem minha existência. Lá só existe paz... no início... depois eu não sei ao certo qual o momento, mas de repente o que era mágico começa a ser destruído e a ruína se inicia. É o momento onde me perco totalmente mesmo no mundo que eu mesma criei. Isso me revolta intensamente pela crueldade de Deus invadir meu próprio universo particular. Esse deus que pertence aos outros, ao mundo das pessoas normais. É, eu não me acho normal. Porque eu descobri que ser normal, é ser sem graça. É ser chato. É rir se todos riem. É levantar se o outro levanta. Ser normal é ingressar nessa comunidade tola. Eu prefiro ser eu. Ser coerente com o que penso e sinto. Ainda que meus pensamentos e sentimentos não sejam coordenados da maneira como os mundanos esperam que sejam.

Agora eu vou te confessar uma coisa. Apesar de eu ser corajosa no meu agir, às vezes eu sinto muito, mas muito medo mesmo. Medo de me invadirem, porque sempre acabam me invadindo. Medo de ficar sozinha no mundo e não ser mais compreendida. Medo de ser atacada pelos inimigos que minha mente começa a criar quando esqueço de tomar a porcaria do remédio. Sim, eu sou inteligente. Muito já li e estudei sobre minha "doença", ou melhor, sobre minha forte característica que me diferencia desta massa sem graça. Eu sou intensa. Na boa e na má. Sei que posso ser inofensiva como uma criança (pois eles me dizem isso quando eu me sinto feliz e segura). E sei que não tenho limites para a maldade que habita em mim quando me sinto ameaçada e me confrontam. A coisa que mais quero é me proteger. Busco a segurança em cada ato que faço.

...é, mas nem sempre. Porque eu sou o sim e também o não e as vezes os dois juntos.
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3 comentários:

Anônimo disse...

nossa. otimo texto. muito preciso, profundo e real. parabens

hypnotica disse...

Pensei ter feito um comentário a respeito deste texto,acho que me enganei,mas aqui está.Muito bom essa visão do que seria a "doença"mas acredito que todos hj estamos doentes ou devemos seguir uma correnteza.Bjs e continue escrevendo assim.

Aline Bortolin disse...

Que bom que gostaram, fico feliz. Maria Clara foi um dos personagens mais difíceis de fazer no teatro. Fui visitar uma clínica, conversei com quem convivia com pessoas que tinham a doença e também coloquei muitas coisas eu imaginava como a pessoa se sentia em relação ao mundo. Foi muito mágico viver na pele e entrar no universo mental de uma pessoa bem diferente e especial. Um beijo